O lugar
Trata-se de um terreno localizado em uma área pertencente ao segundo cordão da conurbação portenha. Uma região tradicionalmente ocupada por latifúndios que, a partir do traçado da Autopista do Oeste, se transforma e passa gradualmente a ser um lugar de residência permanente. Nesse entorno semi-rural, com pouquíssimas construções vizinhas, o projeto deveria ser pensado sem os dados que um bairro já consolidado fornece.
A encomenda
A casa deveria ser feita a partir de um crédito do plano Procrear, uma iniciativa do governo federal para a construção ou ampliação da primeira residência. Com esses fundos e mais algumas escassas economias captadas, um casal jovem encomenda o projeto de uma casa mínima (não mais de 80 m2) com uma flexibilidade e possibilidade de alterações espaciais que possibilitassem diferentes maneiras de habitar com o passar do tempo. A questão do fechamento seguro da casa se apresenta como um tema inevitável.
A proposta
Com estes dados, a busca por propostas teve como condicionantes três pontos: por um lado, a segurança e intimidade da casa como resposta a sua localização particular, por outro a redução de custos para tornar executável sua construção por meio do plano de crédito, e, finalmente, sua adaptabilidade às mudanças na vida deste jovem casal.
Como a resolução da segurança da residência era tão relevante, pareceu interessante ver até onde esta forte condicionante poderia ser tomada como partido gerador do projeto, até onde a formalização se fazia dependente da solução deste problema e quanto seria possível tensionar esta dependência sem afetar o bom resultado estético operando dentro de custos muito reduzidos.
Optou-se, então, por formalizar a casa com uma geometria simples e uma tecnologia facilmente disponível no meio, o que possibilitaria uma economia considerável em acabamentos durante sua execução e garantiria uma manutenção nula no tempo.
A proposta foi desenvolver esta residência em um único volume, um prisma alongado com cobertura e divisórias laterais em concreto armado aparente e adotando como fechamento para os lados maiores em tijolo comum também aparente.
Na fachada voltada para a frente, essas paredes são abertas ou cegas para garantir segurança, privacidade ou impermeabilidade, conforme o caso. Na fachada posterior foram combinadas paredes de tijolo com uma grande abertura que garante a integração interior-exterior. A casa acaba de ser fechada com uma cortina metálica que, ao ser enrolada, desaparece dentro de vigas invertidas.
A organização funcional
Um corte seco na continuidade de tijolos da fachada assinala o acesso. Desde esse ponto acessa-se um espaço único, separada em duas áreas pela implantação do núcleo hidráulico (banheiro e cozinha): uma íntima com duas entradas para resolver diferentes situações de uso (dos dormitórios pequenos ou um dormitório principal e um lugar de trabalho), e outra social que se integra à cozinha e se prolonga no exterior através de um pavimento e um beiral profundo.
Em uma segunda etapa, e na ordem que as necessidades do casal demandem, fica prevista a construção de um novo dormitório e/ou a formalização de um pátio com a churrasqueira.
A solução estrutural
Uma laje de concreto armado em duas direções apoia sobre vigas invertidas retiradas da linha de fachada para simular uma altura menor do volume e fazê-lo parecer mais encaixado na paisagem.
Estas vigas apoiam em divisórias de concreto ou pilares em perfil metálico segundo demanda do projeto. Uma divisória-laje baixa de concreto que corre ao longo de ambas as fachadas funciona como apoia das diversas paredes de tijolo.
A construção
Todo o concreto, tanto interno quanto externo, foi deixado aparente sem nenhum tipo de acabamento superficial. O mesmo critério foi usado para as paredes de alvenaria, tanto as cegas quanto as com aberturas.
Os pisos, internos e externos, são de painéis de cimento separados por elementos de aço inoxidável. As bancadas de banheiros e cozinha são lajes de concreto com superfície alisada e protegia com laca. As aberturas são de alumínio anodizado de cor bronze escuro com vidros com câmara de ar. A calefação é feita por laje radiante. O mobiliário da cozinha e todas as portas dos diversos armários foram projetadas com placas de MDF com puxadores de verniz.